Entrevista com Dra. Susy Paula (Fisioterapeuta Equipa)

A propósito da recente “onda” de lesões no plantel da equipa do São Barto Futsal, entendemos oportuno entrevistar a Fisioterapeuta responsável pela equipa, Dra. Susana Goulart (também conhecida como “Mãos de Fada”), a respeito da prolongada ausência, das “quadras”, do futsalista Migui.

(Redacção Blog): 72 horas após a lesão, o futsalista Migui anunciou, através do blog, que regressaria na semana seguinte, prometendo um “hat-trick”…já deve 2 semanas ao “sócios”; a que se deveu o atraso na recuperação?
(Susy Paula): Após 72h há uma melhoria significativa de qualquer entorse da tíbio-társica, uma vez que o processo inflamatório está praticamente ultrapassado o que leva também a um alívio da dor. No caso do futsalista Migui, tendo sido aplicado o tratamento de fisioterapia 24h depois, essa situação foi ainda mais evidente. O atraso deveu-se sobretudo ao facto de o futsalista não ter compreendido que o tratamento não é feito única e exclusivamente no centro de recuperação, devendo ser continuado em casa e na vida diária. Como fisioterapeuta responsável, dei as devidas explicações, nomeadamente que os primeiros 10 dias são cruciais para a normal cicatrização da lesão ligamentar, e fiz as devidas recomendações, nomeadamente que repousasse o máximo possível e que aplicasse o gelo e a pomada prescrita. O futsalista Migui não seguiu correctamente as recomendações que recebeu, facto que o faz ser o único responsável pelo atraso na sua recuperação.

(RB): É verdade que o futsalista evidencia propensão para entorses da tibiotársica?
(SP): Sim. O Miguel já sofreu algumas entorses anteriormente. Foram entorses de baixa gravidade, mas que deixaram sequelas. Assim sendo, os ligamentos tíbio-társicos do futsalista já não se encontram a 100%, o que leva a que o risco de lesão esteja aumentado. Por esta razão, ele deveria tomar alguma medidas de prevenção tais como realizar um bom aquecimento, aumentando assim a velocidade de resposta muscular, e utilizar protecções tíbio-társicas adequadas à modalidade que pratica, como são as ligaduras funcionais ou os vulgarmente conhecidos “pés elásticos”. Chamo aqui a atenção para a seguinte situação: os “pés elásticos” devem ter uma função de limitação, portanto devem estar perfeitamente ajustados ao tornozelo do futsalista. Se o futsalista em questão estiver a ler esta entrevista, perceberá o que quis dizer com esta afirmação.

(RB): Os hábitos noctívagos do futsalista poderão ter influência no processo?
(SP): Com certeza. Como disse anteriormente, uma das recomendações que fiz foi a de repouso. Os hábitos noctívagos do sujeito levaram a que houvesse uma actividade extra, o que foi o perfeito oposto à recomendação. Também foi recomendado o gelo nos primeiros dias e, aproveitando o momento para um pouco de humor, creio que o Miguel terá entendido que o gelo seria feito no copo e não no pé (risos).

(RB): O futsalista afirmou à “imprensa sensacionalista” : “se tivesse ido ao “indireita”, já tava a jogar!”…como comenta a afirmação?
(SP): É uma afirmação que me deixa muito triste. Não querendo desrespeitar as pessoas que, dignamente, se dedicam a esse tipo de prática que é a de “indireitar”, creio que nos tempos que correm temos profissionais de saúde, os fisioterapeutas, que estão perfeitamente preparados para diagnosticar e tratar, com grande qualidade e com o recurso a uma grande diversidade de métodos, o tipo de lesões que, antigamente, levariam as pessoas a um “indireita”. Sinceramente, fico realmente muito triste e desiludida por me aperceber que ainda há pessoas que não confiam no profissionalismo do fisioterapeuta.
No caso do futsalista Migui, este comentário foi uma forma de se desresponsabilizar pelo atraso que estava a acontecer, mas, como foi explicado na primeira questão que me foi colocada, o atraso foi da responsabilidade do paciente e não da fisioterapeuta e restantes funcionárias do centro de recuperação que colaboraram no tratamento do Miguel.